ADAMO BAZANI
Colaborou Jessica Marques
Vereadores da Frente Parlamentar que discute a linha 18-Bronze do ABC receberam na manhã desta quarta-feira, 19 de junho de 2019, o urbanista e consultor de trânsito e transportes, Flaminio Fichmann, que fez uma apresentação sobre sistemas de BRT – Bus Rapid Transit, sigla para ônibus de trânsito rápido, na tradução.
Fichmann que já fez consultoria em projetos de mobilidade no Brasil e em outros países, foi convidado pelos vereadores que, na semana passada, receberam o gerente de implantação de obras civis do consórcio VemABC, responsável pelo monotrilho, Fábio Zahr.
O encontro ocorreu no Consórcio Intermunicipal ABC, entidade que reúne prefeitos da região, e que também tem acompanhado as discussões sobre eventual troca de modal estudada pelo Governo do Estado de São Paulo.
Flaminio Fichmann disse que o BRT atenderia a demanda entre 300 mil e 400 mil passageiros por dia projetada para o monotrilho.
“O BRT consegue efetivamente ter uma solução tecnológica, com eficiência que permite uma velocidade e um desempenho muito maior que qualquer corredor. A capacidade, a gente tem registrado em Bogotá 50 mil passageiros-hora por sentido. Só como registro, este é o recorde que a gente tem no mundo, para atender a uma faixa de 20 mil a 30 mil passageiros por hora por sentido, na carga num local concentrado, a gente tem inúmeros exemplos no mundo. O Metrô aqui, só para a gente ter uma ideia, a linha 1 (Azul – Santana/Tucuruvi) e a linha 3 (Vermelha – Barra Funda/Itaquera), que são as mais carregadas, têm uma carga de quase 50 mil passageiros-hora-sentido. Então a gente está falando num sistema que é muito flexível, que a gente tem condições de atender. Temos exemplos no mundo de BRTs que atendem a uma demanda maior [que da linha 18]. O que a gente não tem no mundo é monotrilho atendendo a esta demanda” – disse
Ouça:
O consultor que também enfatizou que a velocidade comercial do BRT, dependendo do projeto, pode se assemelhar a de metrô.
“Por um levantamento que até apresentamos aqui na comissão de vereadores, a velocidade comercial de alguns metrôs que chegam a 26,9 km/h em média. Pegamos os metrôs de São Paulo, Paris, Nova Iorque, Londres (…) Com o BRT, deu 25,1 km/h” – explicou.
Segundo Flamínio, um BRT pode custar de 10% a 15% do preço de um metrô.
De acordo com Flaminio Fichmann, o debate tem sido marcado por algumas informações desencontradas.
Segundo especialista, BRT não pode ser classificado como um corredor simples de ônibus, confusão que tem disso feia nas discussões sobre a linha 18, assim como monotrilho não pode ser classificado como Metrô.
“BRT e corredor de ônibus são etapas de tecnologia totalmente diferentes. O BRT tem uma via segregada com ultrapassagem em todas as estações. O BRT não tem ponto de ônibus, mas são estações fechadas, com ar-condicionado, wi-fi, carregadores de celular, uma série de ingredientes diferentes. No BRT, o ingresso no veículo já é em nível, ou seja, já tem o conceito acessibilidade universal para portadores de deficiência ou pessoas com limitação de mobilidade. A cobrança já é externa, quando o passageiro entra na estação pega o
ônibus sem perder tempo em validar o bilhete na catraca. A questão de ter linhas expressas e semi-expressas, uma coisa que no corredor não tem. A gente tem condições agora, com esta nova geração de veículos, ter modelos 100% elétricos sem rede aérea (trólebus), o que dá uma diferença muito grande.” – explicou.
Segundo o especialista, o Estado de São Paulo não tem ainda um sistema pleno de BRT, nem mesmo o Expresso Tiradentes reúne todas as características.
O vereador de Santo André e presidente da frente parlamentar da linha 18, Fábio Lopes, disse que a comissão da Frente Parlamentar se surpreendeu positivamente com o BRT após a explicação de que o sistema não se trata de corredor de ônibus
“Na realidade, nós imaginávamos um BRT com capacidade de transporte menor e hoje nos foi apresentado que o BRT possui a capacidade de operar com volumes maiores de pessoas, desde que seja um BRT moderno, não o que a gente tem hoje de modelos ultrapassados. Já existem novas tecnologias, por isso que precisamos agora verificar a possibilidade.” – disse o vereador.
A possibilidade de ônibus não poluentes também chamou a atenção de acordo com o vereador.
“Surpreendeu. Nós tivemos informações até de veículos 100% elétricos que não têm a necessidade de andar com aquele rabicho de força, como temos nos trólebus, com possibilidade de carga nas estações. Precisamos saber o que o Governo do Estado está pensando.”
Ouça:
Fábio Lopes disse que os vereadores do ABC querem explicações do Estado sobre a declaração realizada nesta terça-feira, do vice-governador Rodrigo Garcia, de que economicamente o contrato com o Consórcio VemABC, responsável pela implantação do monotrilho, é impossível se ser mantido.
“Nós tivemos ontem a presença do vice-governador aqui em Santo André. Nós ficamos muito preocupados com o posicionamento dele com relação à questão da linha 18. Queremos entender se a fala dele foi pautada em algum estudo ou se é algo que partiu apenas da cabeça dele Ele deixou claro que seria inviável talvez a manutenção do contrato com o Consórcio VEM ABC e nós queremos entender o porquê. Se é questão técnica, se é mudança de modal, acho que ele fez uma fala meio fora de foco e não conseguimos entender as razões disso.” – disse o vereador